Ficha temática

Contos cumulativos

Sabia que os primeiros contos eram provavelmente contos cumulativos? O seu objetivo era contar. É uma intuição confirmada pela etimologia, já que os verbos “contar” e “recontar ou enumerar ” provêm ambos do latim computare.

Os contos cumulativos poderiam ter pré-datado os outros contos, e teriam provavelmente sido utilizados para contar, medir, enumerar…

Nos contos cumulativos (ou contos em cadeia), a mesma fórmula, repetida ao longo da história, cria um ritmo, que pontua os momentos-chave da história, os sucessivos encontros que o herói faz, os lugares que atravessa, etc.
Graças ao ritmo e à música da palavra falada, este tipo de história curta e divertida funciona ao nível da memória, bem como ao nível das capacidades motoras e da coordenação entre o corpo e a fala.
Com eles, pode jogar, e por vezes estender a história até ao infinito!

Para começar, vejamos as etapas de um conto cumulativo.

Se o início da história é aberto e muitas vezes simples, é o desenvolvimento da mesma que é longo. É aqui que a estrutura de repetição da história irá aparecer. Como um refrão numa canção, a essência da história desdobrar-se-á ali, e a história terminará com o desfecho desejado. O desenvolvimento da história é prolongado tanto quanto possível, a fim de preparar o final, de modo a que seja imprevisível e surpreendente.

Agora que sabemos como são construídos os contos cumulativos, podemos explorar diferentes tipos de contos cumulativos, começando pelos mais simples.

Os diferentes tipos de contos cumulativos

Enumeração: é a forma mais simples e linear. Em cada etapa, um novo elemento é acrescentado à história. A, depois B, depois C…
Uma rima infantil ou uma cantiga, é um deleite para as crianças muito pequenas.
Exemplos: Dias da semana, Um rato branco, O Imperador, a sua mulher e o pequeno príncipe, Onde estão os meus filhotes, As ratazanas princesas, A caça ao urso…

Segunda-feira pequena
A agradável terça-feira
Quartas-feiras à sombra
Quintas-feiras tonteiras
Às sextas-feiras, com um pouco de mordidela a mais
Sábado a dormir
E aos domingos, tudo começa de novo.

Acumulação: em cada fase da história, um elemento é adicionado e os elementos anteriores são recapitulados. A, depois A+B, depois A+B+C…

Exemplos: O nabo gigante, Galinha ruiva; O castelo de chuchurumel…
Uma mufla abandonada, no buraco de um caminho, em pleno Inverno…
Cada animal entrará por sua vez na luva: o Rato, o Coelho, a Raposa, a Abelha… (pode-se acrescentar outros animais).

1
Aqui está a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

2
Aqui está o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

3
Aqui está o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.


4
Aqui está o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.


6
Aqui está o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

7
Aqui está o cão
Que mordeu o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

8
Aqui está o pau
Que bateu no cão
Que mordeu o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

9
Aqui está o lume
Que queimou o pau
Que bateu no cão
Que mordeu o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

10
Aqui está a água
Que apagou o lume
Que queimou o pau
Que bateu no cão
Que mordeu o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

11
Aqui está o boi
Que bebeu a água
Que apagou o lume
Que queimou o pau
Que bateu no cão
Que mordeu o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

12
Aqui está o carniceiro
Que matou o boi
Que bebeu a água
Que apagou o lume
Que queimou o pau
Que bateu no cão
Que mordeu o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

13
Aqui está a morte
Que levou o carniceiro
E que entrega a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

Eliminação: a história perde gradualmente os seus elementos constituintes (muitas vezes as suas personagens). Muito frequentemente, no final da história, não há mais personagens, ou apenas uma!
A+B+C, depois A+B, depois A…


Exemplo: Romance das 10 meninas casadoiras

São 10 meninas e sobre elas chove
Mas chega um bombeiro e ficam só 9.
São 9 meninas comendo biscoitos
Mas chega um padeiro e ficam só 8.
São 8 meninas fazendo uma omelete
Mas chega um guloso e ficam só 7.
São 7 meninas pintando papéis
Mas chega um pintor e ficam só 6.
São 6 meninas à volta de um brinco
Mas chega o ourives e ficam só 5.
São 5 meninas que vão ao teatro
Mas chega um ator e ficam só 4.
São 4 meninas falando francês
Mas chega um estrangeiro e ficam só 3.
São 3 meninas guardando ovelhas
Mas chega um pastor e ficam só 2.
São 2 meninas nadando na espuma
Mas chega um barqueiro e fica só 1.
É uma menina a apanhar caruma
Mas chega um leão, não fica nenhuma

Substituição: a história começa com A, que deixa o seu lugar para B, que o deixa para C e assim por diante.
Exemplos: em francês, temos Promenons-nous dans les bois, Alouette, Le Coffre, Roule galette, Les trois petits cochons…

Vamos dar um passeio na floresta
Enquanto o lobo não estiver lá
Se o lobo estivesse lá
Ele comer-nos-ia
Mas como ele não está lá
Ele não nos vai comer
Lobo, estás aí?
O que estás aí a fazer?
Consegues ouvir-me?
Estou a vestir a minha camisa [depois as minhas calças, meias, etc.].

Incorporação: é o princípio da história dentro da história, e por vezes da história dentro da história dentro da história, etc. A depois B em A depois C em B em A…

Exemplos: A casa que Pedro construiu, A mosca que voou sem olhar para onde ia…

Esta é a casa que o Pedro construiu.
Esta é a farinha que se encontra no sótão da casa que o Pedro construiu.
Este é o rato que comeu a farinha que se encontra no sótão da casa que o Pedro construiu.
Construída pelo Pedro.
Aqui está o gato que apanhou o rato que comeu a farinha que está no sótão da casa que o Pedro construiu.
Aqui está o cão que estrangulou o gato que apanhou o rato que comeu a farinha
Que está no sótão da casa que o Pedro construiu.

Porquê usar a narração de histórias na aula?

A estrutura dos contos cumulativos permite:

  • Uma aprendizagem do mundo: do próximo ao distante, do pequeno ao grande, do familiar ao cósmico…
  • Ordenar os factos: causas e consequências, ação e reação…
  • Ver como funcionam as relações: interdependência dos seres vivos, relatividade do lugar de cada pessoa (somos sempre os mais fracos ou os mais fortes em relação a…). A entreajuda é uma forma eficaz de obter o que se deseja, a união faz a força, etc.

Atividades em sala de aula

  • Aprender a contar:
    Podemos utilizar: “Cinco aves no ninho.” O objetivo é trabalhar a representação da quantidade com os dedos e notar as consequências da remoção ou adição de uma unidade. Com um ninho contendo cinco aves removíveis no quadro, as crianças terão de memorizar o canto correspondente, que é bastante curto, e depois contar com as mãos as aves que caem do ninho, empurradas por outra ave. Uma vez terminado o exercício, elas recomeçarão, mas desta vez a ave empurrará duas aves do ninho, etc…
  • Para aprender o tamanho dos diferentes animais.