Contos
Mundo Mediterrâneo

O Gigante e o Anão

level 2
Dificuldade **

Sumário: A história de um anão que conseguiu enganar um gigante.

 Era um homem muito forte, um gigante. E depois, o anão disse assim:

– Agora vou trabalhar para a casa do gigante, porque eu quero enganar o gigante. Foi trabalhar para lá e disse-lhe assim:

– Você tem muito mais corpo, mas eu sou muito mais forte que você. Diz ele:

– Então vai lá buscar um barril de água além à fonte. Um barril… Ele, coitado, até com um barril vazio ele custava a poder… Levou um baraço e toca de enrolar a fonte com o baraço. O gigante… ele demorava muito tempo, o gigante foi lá e disse: – Então o que é que estás aí a fazer?

– Para eu não vir aqui todos os dias, levo logo a fonte lá para o pé do monte. Venho agora todos os dias aqui à fonte. O gigante encheu o barril e trouxe-o e ele veio aos saltos atrás dele. Chegou cá ao monte diz o gigante assim:

– Agora vai buscar um molho de pinheiros. Ele foi-se embora e levou um barco. Ele tinha um trado e fez um buraco num pinheiro e esperou lá pelo gigante. Mais logo vem o gigante.

– Então ainda não levaste os pinheiros? Chegou lá, andava ele enrolando os pinheiros todos com o baraço.

– Eu? Então para eu vir aqui todos os dias? Levo logo os pinheiros todos. // Diz ele:

– Vá, e agora vamos lá ver quem é que consegue fazer um buraco num pinheiro com um dedo. Ora, o gigante jogou-se à bruta para fazer o buraco, partiu o dedo. Ele já tinha o buraco feito, foi só enfiar. Diz o gigante:

– Ele parece que é mais forte do que eu… // Bom, vieram-se embora. Diz ele assim:

– Então agora vamos jogar à barra além para o pé do mar. O gigante pegava numas grandes barras de ferro, jogava-as, ficavam logo lá ao pé da praia. O coitado não podia com uma barra sequer, pôs-se com o chapéu:

– Arreda, arreda, arreda! – Então não jogas a barra? Estás a fazer o quê?

– É que eu, se jogar uma barra destas, afundo os barcos todos que andam no mar. Diz o gigante:

– Olha lá, anda lá dai que eu tenho aí as minhas embarcações e tu rebentas-me com isso tudo. //

Bem, vieram. O gigante tinha lá um grande rebanho de cabras, mandou-o ir cuidar nas cabras. Ele foi cuidar nas cabras. Às tantas ele disse-lhe:

– Olha, eu não cuido das cabras sem você me dar parte no negócio. Bom, o gigante deu-lhe parte nas cabras, mas depois ele só fazia era tramplices. Diz o gigante assim:

– A gente vai partir as cabras. Diz o anão assim:

– Olhe, as minhas, as que não tiverem um buraco por debaixo do rabo, tem dois. As cabras e os chibatos eram todas dele. Levou as cabras todas do gigante. O gigante ficou muito zangado. E ele levou-as e foi-se logo embora. Mas depois o gigante começou a pensar bem:

– Mas então eu dei-lhe a levar as cabras todas? Mas as cabras não eram todas dele… // E foi ao encontro do anão para ver se o encontrava. Encontrou-o, estava ele escutando ali ao pé de uma esquina.

– Então o que é que estás escutando?

– É que eu dei um pontapé no cu de uma cabra há três dias e estou a ouvir se lhe ouço a campá.

– Oh! – diz o gigante – Deixa-me lá ir embora antes que ele me dê também um pontapé no cu, que eu desapareça por esses ares. E assim enganou o gigante.

MARQUES, J.J. Dias, “O Gigante e o Anão”, O conto tradicional português no séc XXI, Lisboa, IELT, 2019