Fábulas
Mundo Mediterrâneo

A princesa pele de burro

level 1
Dificuldade *

Era uma vez um rei que tinha uma filha e tinha uma esposa, a rainha fica doente e morre, e a menina fica sozinha com o pai, que, entretanto, arranja uma madrasta. Só que essa madrasta não era muito boa para a menina, tinha inveja dela e resolve afugentá-la do palácio. Então, a menina com medo que lhe façam mal, mas arranja uma pele de burro para se disfarçar e vai embora do palácio. E vai por aqueles campos, por aqueles reinos, à procura de quem lhe dê trabalho. E encontra uma casa onde a vêm com aquele mau aspeto, toda suja, toda faminta, apenas enrolada na pele de burro e dizem-lhe para ela ficar que lhe vão arranjar trabalho, que pode ficar a tomar conta dos porcos. E a menina fica a morar no fundo da quinta a tomar conta dos porcos: dá-lhes comida, limpa-lhes o chiqueiro, que era a casa dos porcos e ela aí vive. Mas essa menina, quando os porcos estão a descansar, ela costuma ir até um ribeiro próximo. Tira a pele de burro, toma banho e dentro de água ela sente-se feliz. Então ela canta lindas canções. Uma destas vezes, em que ela estava a tomar banho, passa um cavalo – clok, clok, clok – com um príncipe lá em cima muito jeitoso, que a ouve cantar. Fica enfeitiçado por aquela voz. Aproxima-se, e quando a vê tomar banho, então nem se fala… O seu coração disparou e ela apercebeu-se que estava a ser vigiada. Pegou na pele de burro e desapareceu de ali para fora, que ele nem teve tempo de saber quem era, o que estava ali a fazer. Então ele volta para o seu palácio e fica adoentado.

Aquela visão não lhe sai da cabeça, aquela rapariga tão gira. Manda perguntar quem é, onde mora, ninguém sabe, ninguém conhece aquela rapariga. E ela, lá na quinta, ouve dizer que o príncipe está adoentado e queria saber quem era aquela rapariga. Então ela tem uma ideia: faz um bolo com ingredientes caseiros e lá dentro põe um anel dela – o anel de princesa – e pede que entreguem aquele bolo no palácio para o príncipe comer. O príncipe vai comer o bolo, dá uma dentadita na fatia onde está o anel e apercebe-se que aquele anel é de princesa.

Então manda os empregados lá do palácio com o anel para ver a quem é que aquele anel servia, para tentar descobrir a quem pertencia aquele anel. Então é assim que ele corre todas as aldeias, todas as quintas, e não encontra ninguém. Chega finalmente àquela quinta, porque era a mais distante, e todas as pessoas experimentam, e o anel não serve a ninguém e ninguém nunca tinha visto aquele anel. E então ele perguntou: – E não há mais ninguém nesta quinta? – Há só a Pele de Burro, mas essa é tão suja, tão desajeitada…. Duvido que o anel lhe sirva. – Ah, mas nós temos ordens do príncipe para que todas as raparigas experimentem o anel. Então eles lá vão chamar a Pele de Burro e a Pele de Burro experimenta e pronto, é mesmo ela. O anel serve-lhe lindamente e então ela deixa cair a pele de burro e lá por debaixo da pele de burro está uma linda rapariga, toda muito bonita, toda mais ou menos arranjada. Então eles resolveram levá-la ao palácio, levam-na… Ela, não sei como, lá por magia, arranja um daqueles vestidos de princesa. E ai, quando o principie a vê, fica logo bem. E marcaram o casamento e ficaram muito felizes. E depois informaram o pai dela, que vivia num desgosto muito profundo pela filha ter desaparecido. E então ficaram bem, foram felizes para sempre, até hoje.

“A princesa pele de burro”, O conto Tradicional Português no séc.XXI, Versões recolhidas por estudantes da Universidade do Algarve, Coleção Editar a Memória, Lisboa, 2019