O Bo¡ é bom.
É bom e tem os pés
e as mãos no chão.
O Sol é bom.
É bom e’ tem as mãos no Céu.
Mas as mãos do Sol são luz.
10 A Rã tem o Iar no Rio.
Saí do Rio e ri.
De que r¡ a Rã?
R¡ da Flor,
que tem só um pé no chão.
Ri da Flor,
que não tem voz, crê a Rã.
A voz da ” diz cuá-cuá;
a voz do Boi diz mã.
E vem o Cão e diz:
– E eu?
E faz ão-ão
Os três a ver quem tem boa voz.
O Cão dá a mão ao B0¡,
o Boi dá os paus à Rã,
e os três vão a rir ver o Rio.
O Sol vê os três lá do e diz:
– E eu? Eu sou o Sol!
E diz o Boi:
– O So¡ é bom; é bom, dá luz.
– Ah, se és o Sol, vem cá! – diz a Rã.
O Sol vem do e vai com eles.
Vai com eles e diz:
– Bem bom!
A Flor, que tem só um pé, não vai.
O Rio bem quer que vá,
mas a Flor não sa¡ do chão.
E o R¡o, que tem dó da Flor, só diz:
– O Sol é pai e mãe de nós:
crê no So| ,tem fé, ó Flor!
Ao pé do Rio e da Fior
há um Pau.
Um Pau com ar de mau.
– Quem és tu? – diz a Flor por fim.
– Eu sou o Pau. A tua dor faz dó. Vem daí, vem! E vaia Flor e diz ao Pau:
-Tu és mau! Mas se não tens pés, não vais, não! E tu não tens pés.
Ri o Pau da Flor:
– Pois sim, s¡m! Mas eu sou o Pau
que faz a nau. ..
que vai ao Mar…
Sem que a Flor dê fé,
vem o Sol e diz:
– Dá cá a mão, vá!
E a Flor sai do chão.
Sai do chão, faz pó, e zás!
A Flor voa
e cai de pé no Pau.
E o Pau cai ao rio
e vai, vai, vai…
E a Fior ri, ri,
E a Flor faz do pé
boa pá prà ré da nau.
E aí vai a Flor e aí vai o Pau.
Aí vão os dois, num par, pró Mar.
E lá vão, lá vão. ..
– É bom ver a luz do Sol- diz a Flor a rir. – O Sol é o meu pão.
-É bom ver a cor do Mar – diz o Pau.
– O Mar é bom e é mau..
– Mau? ! Oh, não! – diz a Flor.
Eu já o vi bem mau. Bem mau!
Num dia…que dia! Nem o Sol se via…
E a Flor vai num fel; nem chus nem bus.
É a vez de o Pau ter dó da Flor:
– Que cruz me dás, Flor!
– O Mar faz mal?
– Não! … Já não sei bem. O Mar é bom, pois é: dá o sal.
– E o Sol? – diz a Flor num fio de voz.
– o Sol dá luz.
– Ah! Bem bom!
E lá vão, Iá vão pró Mar. ..
A Flor guia a nau com o pé
e já vê, vê mais além,
o Cão, a Rã, o Boi e o Sol.
A Flor nem crê no que vê.
E mal se põe ao pé dos três, diz:
– Eu vou ver o Mar! O Pau fez a nau e eu vou ver o Mar.
Dói ao Cão a dor de não ir e faz béu-béu,
já não faz ão-ão;
a cor da Rã é de giz,
a voz da Rã não tem som.
E a do Boi diz mã
mas não tem paz.
Sem cor, a Flor não ri nem vê.
E sem dar plo que faz,
põe mal o pé na nau
e num triz – zás! – cai ao Rio.
O Cão vê a Flor cair
e trás: Rio com ele.
A Rã vê a Flor cair e trás-pás: Rio com ela.
Mas é a Rã, um ás,
que traz a Flor na mão
e a põe na nau.
Ri a Rã, o Cão, a Flor e o Pau.
Aí é a vez de a Flor
Dar o pé à Rã e ao Cão.
Só ao Boi é que não:
o Boi é mais que cem cães;
O Boi é mais que mil rãs…
Flor! Ó Flor! -faz o Boi.
A Flor, sem fé, só diz:
– Se te dou o pé, ó Boi!, cai-se ao Rio, cai, cai.
– Dá um nó aos meus paus com o teu pé – diz o Boi.
– Não! Não vês que o Pau
é mais noz que nau?!
– Pois é, eu sei- diz o Boi.
Mas a Rã e o Cão vão bem.
Cá à ré,
já com fé,
a Flor quer dar o pé ao Boi,
mas a nau vai num ar pró Mar.
À toa, sob os três, o Pau sua.
Só o Boi, tão bom, não vai ver o Mar! …
E aí vem o Sol em prol do Boi:
– Ó Boi! Vê bem!
A tua lei é o chão
e o chão dá o grão;
e a mó, que mói o grão,
faz o grão em pó
e o pó do grão dá o pão.
És um rei; um rei de boa lei.
E o Boi ri, ri, ri.
E o som do Boi a rir
dá o tom à loa
dos que vão na nau:
Dó-Ré-Mi-Fá-Sol-Lá-Si
«A Flor vai ver O Mar. ..»
Num cais do Mar,
lá no cais do Sul,
há um bar.
Um bar com a cor da cai.
No tal bar há um Chim.
E o Chim faz um chá
pra dar à Flor,
mal a nau chegar.
É o fim.