Contos
Mundo Mediterrâneo

A Fava tão grande que chega ao céu

level 2
Dificuldade **

Sumário: Era uma velhota que vivia sozinha e um dia pensou em semear uma favinha. Então semeou a fava no quintal. A fava cresceu, cresceu, cresceu, muito… pensou: “Vou subir pela favinha para ver onde é que isto chega.” Foi andando, andando, andando, chegou ao Céu. Chegou lá, bateu à porta e veio a Nossa Senhora.

 Era uma velhota que vivia sozinha e um dia pensou em semear uma favinha. Então semeou a fava no quintal. A fava cresceu, cresceu, cresceu, muito… pensou: “Vou subir pela favinha para ver onde é que isto chega.” Foi andando, andando, andando, chegou ao Céu. Chegou lá, bateu à porta e veio a Nossa Senhora:

– O que é que tu queres, velhinha?

– Ah, pois eu estou cheia de fome e venho só pedir a esta Senhora que me dê alguma coisinha de comer.

– Olha! Toma lá esta toalhinha e vai para baixo. Quando tiveres fome diz: “Põe-te mesa!” Pões a toalhinha e a mesa põe-se de tudo. Bom, a mulherzinha desceu a favinha por aí abaixo e chegou cá a casa disse:

– Põe-te mesa! Pôs a toalhinha, ora, era de tudo: era bolos, era pão, era peixe, era carne, era de tudo. A mulherzinha encheu a barriguinha e pronto, acabou-se a comida. Até que a vizinhança descobriu aquilo. Uns gajos, uns malteses, que havia sempre, disseram:

– A gente tem que roubar a mulherzinha. Um dia roubaram a mesa, à mulherzinha, com a toalha. Bom, não serviu de nada, pois eles punham-se a dizer “põe-te mesa”, mas a mesa não se punha, nada! A mulherzinha ficou sem mesa. Diz ela assim:

– Agora o que é que eu faço? Lá subiu ela ao Céu, outra vez. Lá foi ela, coitadinha, pela favinha acima. Chegou lá e contou à Nossa Senhora o que se tinha passado. A Nossa Senhora respondeu-lhe:

– Não te apoquentes. Toma lá este pau e quando te veres coiso diz: “Saca pau!”, que a mesa logo aparece, logo se põe a mesa como se punha. Bom, a mulherzinha veio para baixo com o pauzinho. Quando eles começaram a dizer:

– Então e a tua mesa, o que é feito dela? Já não pões a mesa, já não comes carne?

– A fazerem pouco dela. Ela diz assim:

– Saca pau! – O pau começa: truz, truz, truz, à pazada! (risos)

– Vá, agora quero aqui a minha mesa com a minha toalhinha. O pau não os deixou enquanto eles não devolveram a toalha. Quando ela viu a mesa com a toalha posta, disse:

– Pára pau! E o pau parou. A mulherzinha ficou governada para o resto da vida. Nunca mais lhe faltou comida e nunca mais ninguém lhe roubou a mesa e a toalha. E acabou a história.

MARQUES, J.J. Dias, “A fava tão grande que chega ao céu”, O conto tradicional português no séc XXI, Lisboa, IELT, 2019

511A